Ato 2 - As pedras do Poder
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Ato 2 - As pedras do Poder
“Ainda que eu ande no vale deserto, só terei paz, quando houver finalmente a luz, verdadeira.” Kenzo Hisui.
“Os acontecimentos nesta noite do dia 23/09/2036 para o dia 24/09/2036, ficarão guardados na memória de todos, hoje o regente de Magna foi encontrado sem vida dentro uma capsula destroçada completamente desfigurado. Kenzo Hisui nos deixou aos 87 anos, bem como seus familiares, Natsuki Kaede sua nora (38 anos), Kenzo Kai Sobrinho (36 anos), Kenzo Izumi sobrinha (38 anos), Kenzo Sazuki irmã (78 anos mãe de Izumi e Kai), Kenzo Jhin irmão (65 anos), sendo assim todos os familiares de Kenzo Hisui encontrados sem vida no local.
O chanceler vulgo conselheiro real de Magna Hisuko Osuke nos informou já em primeira mão que a morte foi declarada após, uma explosão no centro de controle de inteligência artificial do reino. O motivo teria sido uma intensa discussão entre Kenzo Shin e seu pai, segundo este último, seu pai estaria alucinando e tendo visões que seu filho o príncipe Shin traria desgraça ao mundo se a tal máquina supostamente secreta viesse a ser ativada. O futuro regente nega as afirmações, informando que a família fora acometida por um atentado de seu próprio pai em seu ato senil, quando cometera o suicídio explodindo o local e levando todos consigo. Segundo fontes...” - Neste momento Izuko desliga a televisão.
08:45 pm – Mansão na praia de Natsuki Izuko.
Misusu, uma artista gata animália alaranjada e rajada de Izuko, via em um tablet transparente mais informações.
- Eles sabem o que aconteceu em Tsuki no ai, Izuko sama. - Ela segue lendo um artigo. - Aqui diz que houve um alvoroço no local quando descobriram a morte do regente Hisui. Não quiseram divulgar o motivo, acredito que para proteger Shin sama. Mas, tudo dá entender que houve uma rebelião do povo de Abdalah por rejeitar a morte do rei. Há notícias de que os guardas de Magna em especial Miyamura Kaito, esteve em combate com os “rebeldes” após rejeitarem a notícia, ele está em estado grave no hospital de Magna levado as pressas após quase morrer em intenso combate. Segundo um dos capitães de Miyamura tudo ocorreu em meio a bebidas e regrados a álcool, então os convidados reagiram contra a decisão suprema de Magna de que haveria em breve um novo regente a nível global. - Ela fica atônita. - Claramente é um golpe! Eles estão se protegendo de algo e…
Izuko havia revelado aos presentes em sua enorme sala o que havia acontecido, ela contara sobre a manifestação do seu poder em prol da prima, e que sabia o que estava acontecendo lá até antes de desmaiar no palco. Enquanto ela contava, ajudava os nanotecs médicos que haviam chegado para cuidar de todos, com medicamentos, ataduras e o demais que necessitasse e assim que terminaram foram logo embora, já algumas meninas da casa foram descansar nos quartos.
Melti se aproxima dela incrédula.
- Quer dizer que Kaede lutara contra Shin? Pelos Deuses… - Ela se senta em um banco próximo da amiga, enquanto a mesma colocava uma atadura em uma de suas animálias. - Eles estão distorcendo tudo a favor deles, o que aconteceu hoje foi um atentado dos militares de Magna contra nós, claramente comprovado! - Ela estava incrédula.
- Isso pode piorar com a chegada de Shin no poder, não existirão mais regentes nos continentes, serão apenas “empregados” do futuro rei. O que ele deseja é poder, se essa arma realmente existir, ou seja lá o que for essa máquina, com certeza vai afetar a todos nós e ele vai usar isso para escravizar a todos, constantemente nos ameaçando. - Izuko termina a bandagem na pequena animália e olha para os presentes. - Ao menos é o que deduzi, durante a luta de minha finada prima Kaede.
Estavam todos ali, Kioshin Yi, sua filha, Chen Zen ao lado de Bianca Mori, todos sentados em um imenso sofá avermelhado e acolchoado. Estavam sendo tratados em suas feridas. Inclusive as gêmeas e Yumi que chegaram com Kayra e Satoru Koji havia uma meia hora também estavam presentes na imensa sala já recebendo tratamentos.
A casa de Izuko era imensa, estilo japonês, como um castelo, haviam no total 10 quartos, equipados com camas confortáveis, tecnologia interna com ar, televisor e tapetes de luxo. Cada quarto posssuia uma pequena geladeira e banheiros com hidromassagens. Muito bem arejada, com portas de correr, corredores extensos, jardim de inverno e um lago termal. O jardim era composto de cerejeiras trazidas de Hanatsuki, e replantadas com alta tecnologia que nunca murchassem e sempre desse flores independente da estação. Bem como um campo, onde ali ficava um local apropriado para seus empregados, e aqueles que cuidavam dos cavalos alados e do lugar em si.
Izuko estava ainda de cabelos molhados e soltos e com um traje fino de seda rosa que cobria muito pouco de seus seios e pernas, era uma mulher madura, mais velha, e que ainda era muito atrativa para vários homens. Por isso tão cobiçada e tão bem paga na região.
- Quando finalmente sai das casas de prostíbulos, eu finalmente imaginei que teria meu próprio local. Reformei aquele antro de ratos com dinheiro suado de minhas apresentações para dar segurança as orfãs de Abdalah, as rejeitadas, dar emprego digno para os meus trabalhadores da cozinha e demais empregados. - Ela acende um cigarro e se senta em cima da mesinha de centro para ser observada por todos, cruzando suas belas pernas esguias. - Sai de Hanatsuki, depois que minha prima se ofereceu para casar com Shin, como eu rejeitei a ideia da rainha de lá, eu fui expulsa e acolhida por Rika em seu reino. Servi a ela como segurança por 7 anos, sim eu era uma agente secreta daquela desgraçada de Hanatsuki, e logo depois me encontrei no submundo de Abdalah tentando ajudar essas pobres almas que eram vendidas pelos seus pais, por dinheiro e fama… - Ela aponta com o cigarro para todas as meninas da casa, logo solta um suspiro.
Todos estavam prestando atenção em Izuko, ouvindo sua história de como conquistou tudo que tinha e como perdeu tudo em uma única noite.
- Se acham que eles vão me parar, isso nunca… Eu não sei onde isso vai parar… - Ela dá uma tragada, mas, logo solta a fumaça, continuando. - Mas, eu vou lutar contra esse desgraçado, assassino. - Ela lambe o corte em seu lábio inferior, agora encarando Kioshin Yi. - Foi aquele desgraçado e você sabe…
Enquanto isso, as demais meninas da casa ajudavam a servir café e demais comidas para que todos ficassem bem. Os empregados de Izuko atendiam a todos, e serviam a todos, desejando melhoras para que se recuperassem de suas enfermidades. Kioshin Yi se levanta e vai até a amiga.
- Precisamos informar Rika, ela já deve saber o que houve. Temos que pensar no que fazer com calma a partir de agora… - Ele a segura pelos ombros tentando consolá-la, vendo que mulher recomeçaria a derramar suas lágrimas novamente.
Yumi ao lado de Sayuki se ergue e se dirige até ambos.
- Eu tenho uma mensagem criptografada de Kenzo Hisui e ela precisa ser entregue a você Natsuki Izuko. - Yumi se mantém séria olhando para a dona da casa.
Izuko olha aquela nanotec e antes que abrisse a boca. Sayuki se aproxima.
- Tia, é uma longa história, basicamente está aqui é a Zahira, mas, mais nova e com outra personalidade, Zahira se foi também essa noite, mas ela passou tudo para Yumi, se ela tem alguma informação do que precisa fazer para ajudar, por favor aceite. - Ela toca na mão de Izuko e na flor em seu cabelo a qual era sua Zahira.
A mulher ainda com os olhos inchados de tanto chorar naquela noite, se desfaz de ambos, Yi e Sayuki, e desconfiada olha para Yumi de cima abaixo.
- Certo, me mostre a mensagem. - Izuko leva Yumi e Kioshin Yi para seu quarto, lá atrás de uma prateleira, havia um segundo quarto, mais tecnológico, onde havia um telão com alta tecnologia para que Yumi pudesse retransmitir a mensagem codificada. - Sayuki nos deixe a sós… - Ela fala de costas para a porta sabendo que a menina a seguiu e estava escondida.
- Heh!… - Sayuki ri de forma constrangida e corre dali. - Realmente, a tia era uma agente, nossa!… - Dando de ombros.
Sayuki desce as escadas novamente, o quarto de Izuko ficava no segundo andar da casa, volta a sala, onde todos conversavam e vê Melti ao lado de Bianca Mori.
- Mori Bibi você está bem? Aliás vocês estão? - Entrega um copo de água para a jovem e para os demais perto dela e volta a encarar a moça. - Sinto muito que tenha passado por tudo isso, infelizmente creio que ainda não estamos a salvos, acho que fomos “enquadrados” por aqueles arrombados de Magna.
Misusu a gatinha alaranjada se aproxima ainda lendo alguns artigos. Melti presta atenção na garota.
- Com certeza, parece que eles divulgaram alguns nomes dos que estiveram em combate, e isso inclui o Sr. Kioshin, esse monge ai sem cabelo (se referindo ao Chen Zen) – Ela o olha de baixo acima de forma engraçada o rapaz ao lado de Bianca Mori, mas continua. - e aquele bonitinho ali no canto com sua nanotec, que pra eles ainda é desconhecido, mas sabem que é de Magna. Pelo que entendi, vão instaurar um inquérito sobre hoje, ainda essa semana, depois da posse do novo rei.
Melti revira os olhos e pergunta:
- Eu já não gostava de Magna, agora piorou. O que podem fazer? - Ela volta a encarar Bianca e Chen, para obter talvez alguma opinião.
Sayako a outra gêmea, estava quieta em um canto, ainda se recuperando de sua batalha, parecia exausta e com dor no ombro por ter caído no chão ao desmaiar depois de sua invocação, de relance, ela fica olhando timidamente para Satoro Kojo, seu rosto fica vermelho, mas, criando coragem, ela pega um copo de água e se aproxima dele, o mesmo estava em uma cadeira comendo um sanduíche farto, sua nanotec parecia tranquila com a vitória da sua batalha.
- O… brigada pela ajuda... – Fala baixinho de cabeça baixa para ele. - Minha invocação ainda é cheia de falhas, a sua kitsune do gelo me ajudou muito… Desculpe se fiz algo errado. - Sayako não conseguia olhar nos olhos de Satoro. - Você está bem? A propósito me chamo Sayako, aquela lá é minha irmã Sayuki, se precisar de algo pode me dizer. - Ela lentamente levanta o rosto para ele, apesar de ter 10 anos, ela tinha um olhar maduro de um carmesim lindo, mas, como era tímida transparecia em seu rosto infantil uma certa insegurança de falar com novas pessoas. Diferente de sua irmã Sayuki.
Enquanto isso mais ao centro, daquela sala, Sayuki pula nas costas de Melti, interrompendo um pouco a conversa.
- Quem sabe você deixa de encher a cabeça dos outros com suas perguntas chatas, e os convida para ir para o onsen! - Sayuki ria se divertindo com a desajeitada Melti que lutou para segurá-la firme. - Ah! Me chamo Sayuki! Prazer! Essa tonga aqui é a Mel Mel - Ela ri com um sorriso largo e bobo.
Zakir Melti protesta pelas costas, foi uma batalha dura ela sentia dores nas costas, ela ouve Sayuki e torna a sorrir para todos.
- Sim! Boa idéia Sayu chan! Vem, vou levar vocês para aproveitarem o onsen! Ah ele é misto! Dá para todos relaxarem. Ei! Sayako! Trás esse moço ai também! Depois de um bom banho! Todos poderemos dormir bem! Vamos meninas! - Ela chama as que puderam ir junto, afinal o onsen tinha propriedades curativas dentro da água.
A coruja Kayra só olha para a amiga e balança a cabeça para Melti.
- Ela mal conhece e já convida na cara dura puxando eles. Onde vamos parar com essa sem noção? - Sai voando do poleiro para a rua, afinal dormia sob as árvores.
Melti seguia puxando as mãos de Chen e Bianca falando sobre vários benefícios do onsen. Tirando que o lugar era imenso e rodeado por cerejeiras. Algumas meninas traziam os demais da casa, e Sayako com um olhar doce ainda tentava convencer Satoru a fazer o mesmo oferecendo sua pequena mão a ele.
- Tem vestiário separado, se isso te consola… - Sayako fala discretamente. - Se não formos, aquela maluca da Melti vai vir buscar você pessoalmente. - Ela vira o rosto envergonhada estendendo ainda sua mão para Satoro.
Enquanto isso no quarto de Izuko, aquela revelação, poderia ser um novo começo, uma nova esperança para eles, inclusive do que estaria por vir.
- Hisui quer que nós resgatemos a honra dos povos, e para isso, somos obrigados a resgatar as pedras de ativação que ele precisa. - Ela se senta em sua cama ainda boquiaberta. - Uma máquina, com um potencial de destruição e recriação, o que ele quis dizer? Esse programa Awakening depende dos 4 deuses elementais para ser combatido? Ficou confuso, mas, como faremos…
Yumi se aproxima, após se desconectar do painel onde transmitiu a mensagem.
- Conhece a lenda dos 4 Deuses, o dever deles? - Yumi pergunta a ela.
Izuko a encara e se levanta novamente indo até sua varanda observando de lá o Onsen. Ela vê as gêmeas, com Melti e os demais.
- A deusa da água – Olha para Melti, pois sabia que ela possuía a afinidade com a água. - A deusa da terra... – Observa Bianca Mori por alguns instantes ao lembrar de sua dança vagamente.
Kioshin Yi se aproxima de Izuko e complementa.
- O deus do fogo – Olha diretamente para Satoru Koju. - E o deus do ar. – Olha para seu discípulo Chen. - Para que houvesse harmonia neste mundo os 4 deuses elementais foram invocados para o proteger, graças aos Khantsu’s, caso a magia negra saísse fora de controle. - Logo ele volta seu olhar para Izuko e logo para Yumi.
Yumi sorri como se tivesse passado o recado corretamente.
- Você tem certeza que sentiu os Deus fluírem neles? - Izuko pergunta a Yumi.
Yumi responde se aproximando novamente.
- Analisando a energia de combate deles, sim, aliás eu sinto até agora, é uma grande possibilidade que sejam os representantes dos Deuses nesta Terra. Ao menos é o que Zahira conseguiu me transmitir; os elementais, os representantes nascem a cada 70 anos. Segundo a lenda é possível que cada um detenha a marca de cada um de nascença. A deusa da Terra contendo sob a mão, não sendo na palma, a deusa da água na coxa próxima a nádega direita, o fogo próximo ao peito próximo do coração e o ar no tornozelo esquerdo.
De uma forma meio engraçada, Kioshin e Izuko se debruçam rapidamente na sacada do local ao mesmo tempo, para analisar os quatro.
- Não pode ser, que as gêmeas também tem ligação, então a carta dizia para que eu as treinassem para enfrentar o pai e impedir a tal da máquina… Meu deus como fui perder aquilo… - Ela fala devaneando olhando para o onsen. - Logo ela suspira pensando na aventura que teria que meter essas pessoas, se realmente aqueles 4 tiverem a marca dos Deuses.
- Os demais detalhes eu só saberei quando a missão estiver próximo de acabar, pois o acesso as pastas que tenho são desbloqueados devagar, mas, primeiro, vocês precisam confirmar, se os 4 tem as marcas. - Yumi se curva e sai do quarto, vendo o quanto Yi e Izuko estavam preocupados ao saberem de poucas e importantes informações.
Izuko olha para Kioshin.
- Resumindo a máquina só irá funcionar com a tal chave, e com as pedras dos Deuses, e só quem pode encontrá-las são os seus representantes. E segundo a carta, as gêmeas devem saber como ativa ou desativa essa estrutura. O problema é não saber ainda exatamente o que ela é ou o que faz, sabemos que se ela for ativada com a chave pode ser o fim de todos, a não ser que se ative o programa Awakening...
- Izuko acredito que seja algum tipo de pista, para algo maior, o problema é que o programa Awakening está em execução dentro de Yumi, e só vai se abrir e revelar quando estivermos com os itens necessários para finalizar o tal reinado de Shin, no qual Hisui nos avisou que não será dos melhores. Ele ainda está construindo a estrutura, o pai dele nos deu dicas importantes, pelo que entendi não depende só da chave e sim das pedras que podem encontrá-la. - Kioshin Yi resume melhor.
- Entendi, agora faz mais sentido, com as pedras em mãos, a chave pode aparecer. Afinal, as pedras são mágicas, faz sentido. - Ela fica o encarando o céu com a mão no queixo e pensativa.
- Sim, mas, não se preocupe, eu vou estar aqui e lutarei contra o que for. - Kioshin Yi afirma com segurança tocando no ombro de sua velha amiga.
Natsuki Izuko sorri e o abraça desprevenido.
- Obrigada! Precisava de um cérebro mais brando que me ajudasse a decifar o que Hisui e Kaede queriam dizer. Obrigada por tudo! - Ela o abraçava forte.
- Você não muda esse seu jeito! Continua a mesma adolescente que conheci um dia em meu treinamento em Hanatsuki. - Ele abraça a amiga de volta e os dois riem juntos. - Agora vamos, quem sabe um banho com aquela galera, não os faz relaxar mais, preciso me recompor, suas águas são sagradas graças aos Elfians.
- É será uma boa, depois mais tarde, vemos como conversaremos com todos. - Izuko se afasta indo na direção da escada vendo que Kioshin Yi a seguia.
To be continued…
Re: Ato 2 - As pedras do Poder
A sensação de vulnerabilidade não ia embora tão rápido, Bianca entendia, mas ter pessoas que se importavam com ela realmente fazia diferença, e ela só podia agradecer por tudo.
- Eu... Eu estou melhor Melti... com certeza vou melhorar, obrigada por estar aqui - ela deu um pequeno sorriso para a elfa, que olhou para Bianca surpresa.
- Mora Bibi! - Bianca notou os olhos cheios de lágrimas da elfa, que parecia entender o que ela estava passando - vamos passar por muitas coisas ainda, mas pode contar comigo! - Melti tinha tocado gentilmente no rosto de Bianca.
Misusu, uma gatinha alaranjada estava preocupada e lendo as notícias sobre o evento que os levara até ali, e não era nada bom. A maioria dos envolvidos depois daquilo tinham um alvo nas costas. Quando ela tocou no nome de Chen Zhen, Bianca apertou seus lábios ressecados. Ela sabia que ele estava marcado e naquele momento sentia-se imensamente mal por ele, e com todo aquele horror que tinha destruído tantas vidas.
- Chen Zhen-sam... Eu... Obrigada por tudo... - ela abaixou a parte de cima do corpo, num movimento rápido, sentindo dores pelo corpo, mas ficando firme na posição - Se não fosse por você eu teria... Eu... - algumas cenas vieram a sua mente, e ela fez de tudo para tentar não pensar de novo em tudo que passou com aquele louco. Voltando lentamente a sua posição normal continuou - Assim que eu me recuperar, vou te forjar um par de soqueiras extremamente poderosas em agradecimento - ela disse aquilo, os olhos brilhantes, esperando que ele aceitasse seu agradecimento e começou a caminhar em direção ao onsem.
Magna, ela não tinha muito a falar sobre Magna, só o que ouvia sua família falar, então calou-se, dando de ombros. Era melhor não comentar sobre essas coisas ali.
- Eu realmente preciso de um banho - disse com voz fraca, pedindo desculpas com o olhar.
Ela estava de pé com a força do ódio e isso não era nada bom. Precisava se recompor ou não aguentaria por muito tempo. Sentiu sua pequena adaga na cintura, sinal de que tudo estava bem. Não gostava de perder o controle e ficar longe de suas armas a deixava descontrolada. Tinha agradecido e se despedido de sua família, e a saudade já batia. Esperava que eles conseguissem se proteger e que nada de mal ocorresse com eles.
Depois de quase arrancar a pele no banho, ela finalmente sentiu os músculos relaxando dentro da água quente, mas ainda sentia-se suja. Impura. Ali naquela água que era aquecida e energizada pelos poderes curativos da terra, ela já sentia-se um pouco melhor. Em um momento de meditação algo lhe veio a mente.
Toda a lâmina para ser forte e afiada passava pelos mais difíceis procedimentos. Passava pelas mais fortes marteladas, pelo calor escaldante da fornalha, depois era afogada em água gelada, e esse ciclo era repetido várias e várias vezes. Depois de todo esse sofrimento, a lâmina estava firme, maleável e afiada para ser utilizada pelos mais fortes guerreiros. E ela não poderia ser diferente.
- Eu... Eu estou melhor Melti... com certeza vou melhorar, obrigada por estar aqui - ela deu um pequeno sorriso para a elfa, que olhou para Bianca surpresa.
- Mora Bibi! - Bianca notou os olhos cheios de lágrimas da elfa, que parecia entender o que ela estava passando - vamos passar por muitas coisas ainda, mas pode contar comigo! - Melti tinha tocado gentilmente no rosto de Bianca.
Misusu, uma gatinha alaranjada estava preocupada e lendo as notícias sobre o evento que os levara até ali, e não era nada bom. A maioria dos envolvidos depois daquilo tinham um alvo nas costas. Quando ela tocou no nome de Chen Zhen, Bianca apertou seus lábios ressecados. Ela sabia que ele estava marcado e naquele momento sentia-se imensamente mal por ele, e com todo aquele horror que tinha destruído tantas vidas.
- Chen Zhen-sam... Eu... Obrigada por tudo... - ela abaixou a parte de cima do corpo, num movimento rápido, sentindo dores pelo corpo, mas ficando firme na posição - Se não fosse por você eu teria... Eu... - algumas cenas vieram a sua mente, e ela fez de tudo para tentar não pensar de novo em tudo que passou com aquele louco. Voltando lentamente a sua posição normal continuou - Assim que eu me recuperar, vou te forjar um par de soqueiras extremamente poderosas em agradecimento - ela disse aquilo, os olhos brilhantes, esperando que ele aceitasse seu agradecimento e começou a caminhar em direção ao onsem.
Magna, ela não tinha muito a falar sobre Magna, só o que ouvia sua família falar, então calou-se, dando de ombros. Era melhor não comentar sobre essas coisas ali.
- Eu realmente preciso de um banho - disse com voz fraca, pedindo desculpas com o olhar.
Ela estava de pé com a força do ódio e isso não era nada bom. Precisava se recompor ou não aguentaria por muito tempo. Sentiu sua pequena adaga na cintura, sinal de que tudo estava bem. Não gostava de perder o controle e ficar longe de suas armas a deixava descontrolada. Tinha agradecido e se despedido de sua família, e a saudade já batia. Esperava que eles conseguissem se proteger e que nada de mal ocorresse com eles.
Depois de quase arrancar a pele no banho, ela finalmente sentiu os músculos relaxando dentro da água quente, mas ainda sentia-se suja. Impura. Ali naquela água que era aquecida e energizada pelos poderes curativos da terra, ela já sentia-se um pouco melhor. Em um momento de meditação algo lhe veio a mente.
Toda a lâmina para ser forte e afiada passava pelos mais difíceis procedimentos. Passava pelas mais fortes marteladas, pelo calor escaldante da fornalha, depois era afogada em água gelada, e esse ciclo era repetido várias e várias vezes. Depois de todo esse sofrimento, a lâmina estava firme, maleável e afiada para ser utilizada pelos mais fortes guerreiros. E ela não poderia ser diferente.
Bianca- Mensagens : 8
Data de inscrição : 06/12/2022
Re: Ato 2 - As pedras do Poder
-Ha... - Satoru solta um suspiro longo depois de ver toda aquela bagunça pós batalha/luta. - Yuka havia me dito que tinha algo de importante a ser feito aqui em Abdalah, mas não imaginei que fosse algo desse tipo. - Ele dizia enquanto se sentava em um banco de madeira com assento vermelho e aveludado.
- Realmente foi bem sinistro essa parada. - Dizia Ryuko enquanto alongava os braço direito, girando-o em um circulo enquanto a outra mão massageava o ombro do mesmo lado. - Esses dois soldados não estavam de brincadeira, quase que meu braço sai fora do meu corpo, eu heim.
- O que esses caras queriam? e o que foi essa luta? foi muita informação pra minha cabeça em muito pouto tempo! - Satoru coça sua cabeça tentando entender tudo aquilo.
- Ei, moço! - Uma animália gato de pelos brancos como a neve, orelhas rosas e olhos dourados, puxava sua camisa em suas costas. - O senhor gostaria de um lanche natural com alface, tomate, cebola, maionese, pimentão, azeitona, brócolis, cenoura, ervilha, milho e uma pitadinha de sal nya? - Ela inclina a cabeça olhando-o com um sorriso.
- Mas pra que tanto ingrediente assim em um lanche? - Satoru olha o lanche que a animália estava segurando, um lanche que mal dava pra se identificar o que havia no meio, tinha uns pedaços de tomate esmagado com folhas de alface escapando pelo lado do pão, o resto era um aglomerado de cores e de objetos não identificáveis. - Ham... eu... aceito? - Ele pega o lanche e agradece. - Obrigado... nyan?
- De nadanyan! Sinta-se a vontade, a casa da senhora Izuko é muito grande, mas se precisar de mim, é só gritar pelo nome de Nui que eu apareçonyan! - Ela solta um ronronado discreto e caminha em direção as outras empregadas da casa.
O lanche era meio grande, mas a fome de Koji era muita e aquilo, por mais que estranho parecesse, para ele já era um banquete, e com uma grande mordida, abocanhou um terço do mesmo e então descobriu que era o melhor lanche natural que ele comeu na sua vida. Satoru abriu um sorriso e continuou a comer.
Ryuko sem se intrometer na conversa entre os dois, se levantou e caminhou em direção ao onsen, onde o grupo estava comentando que iria descansar, mesmo sendo um nanotec, isso não o impedia de mergulhar ou entrar em locais aquáticos.
Um tempo se passa, Koji já estava lutando com aquele lanche, após a segunda mordida daquele lanche, estranhamente o deixou satisfeito, mas ainda faltava mais da metade para comer, mas ele não queria jogar fora nem fazer a desfeita de deixar o mesmo de lado, lutando contra sua barriga e estomago, ele forçava o lanche a descer até se engasgas com um alface, mas por um acaso, uma das gêmeas que havia lhe ajudado no combate recente, apareceu com um copo da água em sua frente, tímida. Ele pega o copo e toma um gole, fazendo o lanche entalado na garganta descer.
- Sayako é seu nome né? - Koji respira fundo, pegando ar que seu pulmão precisava depois do susto do lanche entalado. - Sua invocação foi muito bem, ainda nessa idade, usando uma magia de tal nível, não é pra qualquer um, ainda mais... - Ele pausa e sua expressão fica séria - Magia negra. - Satoru volta um pouco o seu passado, lembrando de si mesmo quando estava na mesma idade da pequena em sua frente, treinando exaustivamente suas invocações e suas magias com seu desaparecido pai. - Você treinou bastante né? - Ele abre um sorriso e então afaga os cabelos dela bagunçando um pouco - Está de parabéns, se quiser, posso te ajudar a melhorar a sua invocação e a sua magia também. - Koji dá a ultima mordida no lanche e então olha para a irmã de Sayako convidando-os para o onsen.
Satoru sorri para Sayuki e então segura na mão de Sayako que a convidava para se juntar a eles. - Bom... precisamos descansar um pouco mesmo... Maya, cê vem? - Ele fala enquanto ela surge atrás de um pilar.
- Claro, não posso recusar o convite de um onsem, ainda mais vindo dessas garotas. - Ela sorri para Sayako e os segue até onde o grupo estava.
- Realmente foi bem sinistro essa parada. - Dizia Ryuko enquanto alongava os braço direito, girando-o em um circulo enquanto a outra mão massageava o ombro do mesmo lado. - Esses dois soldados não estavam de brincadeira, quase que meu braço sai fora do meu corpo, eu heim.
- O que esses caras queriam? e o que foi essa luta? foi muita informação pra minha cabeça em muito pouto tempo! - Satoru coça sua cabeça tentando entender tudo aquilo.
- Ei, moço! - Uma animália gato de pelos brancos como a neve, orelhas rosas e olhos dourados, puxava sua camisa em suas costas. - O senhor gostaria de um lanche natural com alface, tomate, cebola, maionese, pimentão, azeitona, brócolis, cenoura, ervilha, milho e uma pitadinha de sal nya? - Ela inclina a cabeça olhando-o com um sorriso.
- Mas pra que tanto ingrediente assim em um lanche? - Satoru olha o lanche que a animália estava segurando, um lanche que mal dava pra se identificar o que havia no meio, tinha uns pedaços de tomate esmagado com folhas de alface escapando pelo lado do pão, o resto era um aglomerado de cores e de objetos não identificáveis. - Ham... eu... aceito? - Ele pega o lanche e agradece. - Obrigado... nyan?
- De nadanyan! Sinta-se a vontade, a casa da senhora Izuko é muito grande, mas se precisar de mim, é só gritar pelo nome de Nui que eu apareçonyan! - Ela solta um ronronado discreto e caminha em direção as outras empregadas da casa.
O lanche era meio grande, mas a fome de Koji era muita e aquilo, por mais que estranho parecesse, para ele já era um banquete, e com uma grande mordida, abocanhou um terço do mesmo e então descobriu que era o melhor lanche natural que ele comeu na sua vida. Satoru abriu um sorriso e continuou a comer.
Ryuko sem se intrometer na conversa entre os dois, se levantou e caminhou em direção ao onsen, onde o grupo estava comentando que iria descansar, mesmo sendo um nanotec, isso não o impedia de mergulhar ou entrar em locais aquáticos.
Um tempo se passa, Koji já estava lutando com aquele lanche, após a segunda mordida daquele lanche, estranhamente o deixou satisfeito, mas ainda faltava mais da metade para comer, mas ele não queria jogar fora nem fazer a desfeita de deixar o mesmo de lado, lutando contra sua barriga e estomago, ele forçava o lanche a descer até se engasgas com um alface, mas por um acaso, uma das gêmeas que havia lhe ajudado no combate recente, apareceu com um copo da água em sua frente, tímida. Ele pega o copo e toma um gole, fazendo o lanche entalado na garganta descer.
- Sayako é seu nome né? - Koji respira fundo, pegando ar que seu pulmão precisava depois do susto do lanche entalado. - Sua invocação foi muito bem, ainda nessa idade, usando uma magia de tal nível, não é pra qualquer um, ainda mais... - Ele pausa e sua expressão fica séria - Magia negra. - Satoru volta um pouco o seu passado, lembrando de si mesmo quando estava na mesma idade da pequena em sua frente, treinando exaustivamente suas invocações e suas magias com seu desaparecido pai. - Você treinou bastante né? - Ele abre um sorriso e então afaga os cabelos dela bagunçando um pouco - Está de parabéns, se quiser, posso te ajudar a melhorar a sua invocação e a sua magia também. - Koji dá a ultima mordida no lanche e então olha para a irmã de Sayako convidando-os para o onsen.
Satoru sorri para Sayuki e então segura na mão de Sayako que a convidava para se juntar a eles. - Bom... precisamos descansar um pouco mesmo... Maya, cê vem? - Ele fala enquanto ela surge atrás de um pilar.
- Claro, não posso recusar o convite de um onsem, ainda mais vindo dessas garotas. - Ela sorri para Sayako e os segue até onde o grupo estava.
Satoru Koji- Mensagens : 7
Data de inscrição : 06/12/2022
Idade : 32
Re: Ato 2 - As pedras do Poder
A túnica de monge é uma roupa quente e desconfortável em dias de verão.
Uma vez que Kiaulen possui um clima ameno na maior parte do ano, isso não é um problema. Mas Chen Zhen ainda não havia sido apresentado ao calor do dia que faz em Abdalah quando o sol reina sobre a terra. Quando Kioshin, Kio Xai, os demais Genji e ele haviam pisado neste solo para se dirigir ao estabelecimento Tsuki no Ai, a bola de fogo celeste já estava se pondo, mergulhando no horizonte e pintando o mundo em tons alaranjados, e a temperatura era agradável. O evento de confraternização promovido pela senhora Izuko, as apresentações, a confusão no salão e a batalha contra os soldados de Magna, Miyamura Kaito e seus guarda-costas robóticos aconteceram sob o manto da noite, quando a Lua fazia sua vigília sobre o mundo, findando nas últimas horas que antecedem a alvorada. Agora, apesar de ainda ser pouco antes das nove horas da manhã, o relógio flamejante dos deuses já brilhava e ardia acima de suas cabeças, como um ditador soberbo, escaldando a terra e envolvendo o mundo logo abaixo em um lençol de calor calcinante e ar abafado, que parecia grudar-se à pele de seus corpos e comprimi-los.
Sahptev é o nome da religião praticada em Kiaulen. Os Genji cultuam um total de mil e um deuses, e as sagradas escrituras dizem que os mesmos estão presentes em todas as coisas, materiais e espirituais. Aparentemente, Ytar - o deus do Sol e do fogo - tinha uma particular preferência por observar esta parte do mundo mais de perto, pois seu toque calcinante se fazia sentir com intensidade. Em contraponto, Inna, a bela deusa do céu, não parecia estar voltando sua atenção para aquela porção de terra naquele dia, uma vez que o céu estava limpo e sem nuvens, as quais crê-se que são o local de repouso da divindade. Durante o trajeto, das ruínas do que fora o estabelecimento da senhora Izuko, para a sua propriedade no litoral, Chen Zhen não escapou da experiência de sentir o suor escorrendo pelo interior das roupas e irritando os próprios olhos quando a gravidade o fazia pesar e deslizar da testa. Certa vez, ouvira o mestre Kioshin dizer que o verão prolonga-se durante quase todo o ano nestas terras. Teorizou que o costume das mulheres deste continente de desfilarem em trajes sumários tinha menos a ver com pura e simples libertinagem, e mais a ver com adaptação ao calor opressivo e uma constante luta contra o sufocamento e a desidratação.
Apesar do calor característico do continente de Abdalah, o interior da luxuosa e imponente propriedade praiana da senhora Izuko era refrescante e acolhedor. Contra o calor externo, Chen Zhen estava abrigado. Contra outra coisa, que vinha de dentro, não. O pesar de pensar em seus irmãos Genji e nas demais pessoas feridas ou mortas na batalha contra os soldados de Magna liderados por Miyamura Kaito. Os esforços da senhora Izuko, do mestre Kioshin e das demais pessoas que ajudaram no combate evitaram que uma tragédia maior acontecesse, mas não foi possível evitar fatalidades. Chen Zhen vira algumas dessas fatalidades acontecerem diante dele, e as recordações eram intensas e vívidas em sua mente, como se estivessem sendo reproduzidas com fidedignidade na frente dele naquele momento. O monge segurava firme seu rosário enquanto rezava silenciosamente para que os deuses acolhessem as almas das pessoas injustamente vitimadas no triste episódio da noite anterior. Ele não conhecia o homem chamado Kenzo Shin, mencionado por Miyamura, e cuja mera menção aparentemente causava desconforto tanto na senhora Izuko quanto no sifu, mas as consequências de sua recente ascensão ao poder se faziam sentir desde já, sob a forma de morte e sofrimento de inocentes. Era doloroso se questionar quantos mais precisarão morrer como se fossem gado, em prol dos ardis malignos de um governante com o qual um homem como Miyamura Kaito se alinhava.
“Afinal, o nosso rei irá governar todos os mundos inclusive os 4 reinos.”
A proclamação proferida por Miyamura com prazer sádico no salão do estabelecimento Tsuki no Ai, momentos antes da grande depredação, também ribombava em seus pensamentos. A que tempos sombrios o povo de Magna estaria sendo submetido à força pela mão maligna de um homem como Kenzo Shin? E o que seria das pessoas dos demais reinos, se alguma veracidade pudesse ser creditada à ameaça feita pelo major?
O grande televisor localizado no centro da sala de estar, onde estavam todos reunidos, pareceu ter escutado as preocupações de Chen Zhen, pois respondeu parte de suas dúvidas, divulgando sua versão manipulada e tendenciosa dos fatos ocorridos no centro de controle de inteligência artificial de Magna, que culminaram com a morte do rei Kenzo Hisui, da senhora Kaede e de todos os demais membros da família real, a exceção do agora rei Shin. Um breve observar dos semblantes do mestre Kioshin e da senhora Izuko foi mais do que suficiente para ele saber que as notícias eram convenientemente falsificadas para pintar Kenzo Hisui, que não podia refutar as acusações, como vilão, e seu filho Shin como herói.
Uma gata antropomórfica compartilhava em voz alta informações adicionais.
- Há notícias de que os guardas de Magna em especial Miyamura Kaito, esteve em combate com os “rebeldes” após rejeitarem a notícia, ele está em estado grave no hospital de Magna levado as pressas após quase morrer em intenso combate.
O orgulho da vitória sobre o inimigo passou longe das sensações de Chen Zhen ao ouvir isso. Ao invés disso, ele sentiu uma pontada de culpa. Os ferimentos que ele causou em Miyamura podem ter contribuído para inflamar ainda mais a hostilidade entre os reinos. Ele lançou um breve olhar para Bianca Mori, procurando no semblante dela algo que o reassegurasse de que fizera a coisa certa.
A senhora Izuko e alguns nanotecs médicos tratavam os ferimentos mais graves dos sobreviventes presentes no local. Chen Zhen se oferecera para ajudar também. Ele usava seu Chi Kung de cura, Sopro Divino, para fechar as escoriações que uma funcionária humana, com longos cabelos negros e roupa recatada de servente, tinha nos braços e nos ombros, possivelmente por conta de uma tentativa de violência praticada por um soldado de Magna. Enquanto trabalhava, ouvia a discussão da senhora Izuko com suas subordinadas, sobre o ocorrido, as notícias e o futuro instável à frente.
- Isso pode piorar com a chegada de Shin no poder, não existirão mais regentes nos continentes, serão apenas “empregados” do futuro rei.
Ao ouvir essas palavras proferidas pela amiga do mestre, Chen Zhen instintivamente olhou para o mesmo, e depois para Kio Xai, que também seria diretamente impactada se essa mudança no organograma global de poder se tornasse realidade, e o pai dela fosse obrigado a dançar conforme a música tocada pelo desequilibrado novo rei de Magna.
Chen Zhen terminou o curativo, e a moça agradeceu e se retirou. Ele permitiu-se acomodar no grande sofá, tendo aos seus flancos Kio Xai e Bianca, e soltar o peso dos ombros, quão logo a senhora Izuko começou a compartilhar com todos a sua história de vida.
Aparentemente, ela era natural de Hanatsuki, e já esteve intimamente ligada à atual regente Azukame Ayuka, bem como sua prima, a finada senhora Kaede, que fora prometida e oferecida a Kenzo Shin em um casamento por interesse. O tom de voz abrasivo e os termos pejorativos usados por ela para se referir à rainha de Hanatsuki denunciavam que, contrastando com a ótima relação que Chen Zhen tinha com o sifu, ela tinha mágoas e rancores guardados em relação à sua outrora superiora imediata.
- (Nem todos somos favorecidos pelos deuses com bons mestres) - Chen Zhen refletiu em pensamento.
A senhora Izuko prosseguiu.
- Se acham que eles vão me parar, isso nunca… Eu não sei onde isso vai parar… - Ela dá uma tragada, mas, logo solta a fumaça, continuando. - Mas, eu vou lutar contra esse desgraçado, assassino. - Ela lambe o corte em seu lábio inferior, agora encarando Kioshin Yi. - Foi aquele desgraçado e você sabe…
Chen Zhen percebeu que Kio Xai fez menção de se levantar do sofá e fazer um protesto, mas o mestre a deteve com um gesto, sem tirar os olhos da anfitriã. Seria hipocrisia da parte dele não reconhecer que compartilhava dos sentimentos da filha do mestre. Achava inadequado o governante de Kiaulen se permitir tratar e ter a palavra dirigida a ele daquela forma, como se fosse um homem qualquer. Jamais criticaria o mestre, mas às vezes acreditava que ele tratava sua própria posição de representante de um dos quatro reinos de forma muito leviana, e se esforçava demais para ser um homem do povo, ao alcance de todos, oferecendo liberdades das quais as pessoas poderiam abusar.
- Precisamos informar Rika, ela já deve saber o que houve. Temos que pensar no que fazer com calma a partir de agora… - disse Kioshin, mantendo o foco no problema principal em questão.
O mestre se levantou e ofereceu seu apoio à velha amiga. Chen Zhen percebeu que, por trás do discurso resiliente e decidido, e das feições duras e obstinadas, a senhora Izuko demonstrava menções de desabar em prantos a qualquer momento, no que o apoio do mestre, como seu amigo, se faria necessário. Resolveu relevar o momento de ousadia de antes e pediu aos deuses para que essa leniência da parte do mestre fosse um tratamento excepcional dedicado à senhora Izuko, em honra à amizade de longa data de ambos, e não se tornasse regra.
A anfitriã e o mestre se retiraram da grande sala, subindo as escadas em direção ao quarto da mesma. Foram acompanhados por uma nanotec chamada Yumi, que, contrastando com as feições e trejeitos praticamente humanos de Ryuko, o nanotec companheiro do espadachim Satoru, transbordava artificialidade e frieza.
Os que ficaram na sala começaram a conversar entre si. Um suspiro pesado e indignado de Kio Xai chamou a atenção de Chen Zhen.
- [E, como se não bastasse, fica arrastando o meu pai pra cima e pra baixo, como se ele fosse seu consorte] - a filha do mestre resmungava no idioma nativo de Kiaulen, reclamando da conduta da senhora Izuko para com o pai, na opinião dela, inadequadamente informal e íntima.
- [Calma, irmã] - Chen Zhen tentou tranquilizá-la - [o mestre parece não se importar. Eles são amigos de longa data. A senhora Izuko nos ofereceu sua hospitalidade e passou por muita coisa, incluindo a recente perda de sua prima e a destruição de todo o seu trabalho. E, no momento, há uma crise maior que eu, você, ou qualquer um de nós, acontecen-]
Chen Zhen interrompeu-se ao escutar uma conversa paralela.
- Com certeza, parece que eles divulgaram alguns nomes dos que estiveram em combate, e isso inclui o Sr. Kioshin, esse monge ai sem cabelo.
Percebeu que a gata antropomórfica que falava aquilo olhava para ele, aparentemente analisando-o e achando graça em alguma coisa. A resposta emocional a aquele comentário ficou restrita aos seus pensamentos.
- (Este monge pode não ter cabelo, mas tem nome) - pensou - (e minha escassez de cabelo é um problema mais fácil de ser resolvido do que o seu excesso do mesmo, senhorita bola de pêlos.)
Imediatamente levou a mão ao rosário para pagar a penitência perante os deuses, por esse pensamento desarmonioso. Aparentemente, o costume masculino dos Baixos Genji de raspar a cabeça era fonte de curiosidade e divertimento para os outros povos. Não se deixaria tropeçar nessa pedra colocada em seu caminho. Ao invés disso, escalaria esse degrau em prol da sua ascensão. Após recuperar o equilíbrio emocional, refletiu sobre a informação compartilhada, e percebeu que tinha mais motivos para se preocupar, se os nomes e rostos dele e do mestre tiverem sido marcados como inimigos de Magna. Escutou Bianca dirigir a palavra a ele.
- Chen Zhen-sam... Eu... Obrigada por tudo... Se não fosse por você eu teria... Eu…
Ao tentar falar sobre a experiência traumática, ela não conseguia concluir cada nova frase que começava.
- Assim que eu me recuperar, vou te forjar um par de soqueiras extremamente poderosas em agradecimento.
Ao voltar a se situar em sua área de atuação, a ferraria, mencionando as soqueiras, sua dicção voltou a fluir naturalmente. Chen Zhen percebeu que ela ainda estava com o espírito e o emocional abalados pelo conflito de antes. Algumas lesões eram profundas e complexas demais para sua técnica Sopro Divino curar. Deveriam ser fechadas com meditação e tempo. Chen Zhen pensou em dizer a ela que não precisava se incomodar, pois não lhe devia nada. Mas, em um breve momento de potencial egoísmo, a ideia de ganhar soqueiras de metal poderosas o deixou interessado; eram ferramentas de combate eficientes e versáteis, que poderiam ser usadas tanto para ataque quanto para defesa. Jamais recebera tal regalia de um Alto Genji, geralmente os desenvolvedores de equipamentos de combate e defesa dotados de tecnologia mais avançada em Kiaulen.
- Pelo que entendi - a subordinada peluda da senhora Izuko prosseguiu - vão instaurar um inquérito sobre hoje, ainda essa semana, depois da posse do novo rei.
- Eu já não gostava de Magna, agora piorou. O que podem fazer? - a elfa que parecia ter desenvolvido intimidade com Bianca lançou um questionamento difícil de responder.
- Em Kiaulen - Chen Zhen explicou - todo acusado de algum crime, por pior que seja, tem a oportunidade de ser ouvido em audiência, antes de ser julgado e condenado.
Kio Xai cruzou os braços.
- Mas nós não estamos em Kiaulen - contestou - nem Kenzo Shin. E eu não apostaria as minhas fichas na generosidade e observância do princípio da presunção de inocência por parte de alguém como ele.
Chen Zhen não podia refutar a observação de Kio Xai. Kenzo Shin já tinha a mídia nas mãos. O que o impedia de ter também os poderes de juiz, júri e executor?
A atenção de todos os cinco (Chen Zhen, Kio Xai, Bianca, a elfa e a gata) foi desviada do assunto, quando uma criança, uma menina de longos cabelos prateados e olhos vermelhos, aparentando ter cerca de dez anos, e uma quantidade de energia equiparável à de um reator nuclear, surgiu sabe-se lá de onde e pulou nas costas da elfa.
- Quem sabe você deixa de encher a cabeça dos outros com suas perguntas chatas, e os convida para ir para o onsen! - a jovem menina disse, empoleirando-se na elfa como se esta fosse um brinquedo de recreação infantil - Ah! Me chamo Sayuki! Prazer! Essa tonga aqui é a Mel Mel
- Chen Zhen, discípulo do mestre Kioshin - o monge se apresentou - esta é Kio Xai, filha do mestre.
A filha do mestre fez um meneio de cabeça curto e seco.
Após alguns protestos e discussões entre as duas, a elfa acabou aceitando a sugestão da menina de cabelos prateados, e se dirigiu a uma outra menina, da mesma idade, com a mesma longuidão dos cabelos, porém negros, e os mesmos olhos carmesins, cuja presença Chen Zhen ainda não havia notado, que conversava com o espadachim Satoru, para se juntarem a eles. O monge começou a sentir a cabeça girar com a enxurrada de novos nomes e novos rostos a memorizar. Se dirigiu a Kio Xai.
- Quem são essas crianças? - perguntou.
Kio Xai simplesmente ergueu e baixou os ombros.
- Protegidas de Izuko - quem respondeu foi Bianca - elas são Kenzo Sayuki e Kenzo Sayako, filhas gêmeas do rei Shin com Kaede, rejeitadas pelo pai e mandadas aos cuidados de Izusu pela mãe, para que não fossem mortas.
Chen Zhen ficou atônito com a súbita revelação, de que eles estavam no mesmo recinto que as filhas do inimigo poderoso que provavelmente desejava matá-los, e de que Kenzo Shin seria tão cruel a ponto de mandar matar seu próprio sangue. Deteve-se por alguns segundos, observando com um certo interesse a menina tímida e silenciosa chamada Sayako. Se perguntou se Sayuki-chan e Sayako-chan estavam cientes de que sua mãe biológica estava morta, ou se a mulher que Bianca chamava de Izusu havia sido tão bem sucedida em desempenhar um papel de figura materna, que elas aprenderam a não sentir falta da senhora Kaede. Suas divagações foram interrompidas quando ele sentiu sua mão sendo puxada vigorosamente pela elfa, que o conduzia, juntamente com Bianca, para o ambiente de banhos.
- Ei! - Kio Xai protestou, seguindo-os - não arraste meu irmãozinho assim, sem mais nem menos!
Um banho misto, compartilhado entre homens e mulheres ao mesmo tempo. Em Kiaulen, isso seria impensável. Mas Chen Zhen se lembrou das palavras ditas pelo mestre a Kio Xai, quando eles estavam a caminho do estabelecimento Tsuki no Ai. “Outros continentes, outras culturas e costumes”. Após muita hesitação e ponderação, resolveu aceitar o convite e permitir-se um momento de relaxamento e recuperação das energias após a recente batalha. Observara Kio Xai testar a paciência das empregadas da casa até o limite, exigindo uma roupa de banho de uma única peça, chamada maiô, grande o bastante para cobrir também os ombros e o início das coxas, o mais recatado possível que a casa tivesse, para vestir por baixo da toalha. De onde ele estava, não podia ver direito, pois estava acomodado em um canto da grande piscina de pedra, e as mulheres, incluindo Kio Xai, estavam em sua maioria na extremidade oposta e distante, e a névoa de vapor emanado da água quente preenchia o ar ao redor deles e tornava difícil enxergar o que se passava ao longe. Mas teve a impressão de haver escutado Kio Xai solicitar não uma, mas duas toalhas, para envolver o corpo já coberto pelo restritivo traje de banho.
- (Espero que ela não desmaie de calor) - pensou, ao sentir a temperatura da água.
Ele próprio havia optado por permanecer com a peça íntima que usava por baixo da túnica de monge, além da toalha que lhe envolvia os quadris. Por um lado, achava que Kio Xai estava exagerando um pouco. “É desse jeito, ou me tornarei imprópria para me casar algum dia”, ouviu-a dizer. Por outro lado, achou gracioso o zelo dela em preservar suas intimidades. O mestre tinha motivos para ficar orgulhoso, bem como o futuro homem de sorte que fizesse os votos perante os deuses. “Se você chegar a menos de dois metros de uma garota, eu irei saber.”, ela praticamente o ameaçara. Perguntou-se se ela tinha falado isso da boca pra fora, ou se realmente falava sério. Nessa segunda hipótese, ela saberia que ele estivera a menos de dois metros de Bianca Mori horas antes, quando a protegera de Miyamura Kaito e curara seus ferimentos? Mas achou pouco provável a ameaça dela se concretizar, pois, como se não bastassem o maiô recatado e as duas camadas de toalhas, Kio Xai estava de frente para o canto da piscina onde estava, de costas para tudo que acontecia no centro e as pessoas que estavam ali, parecendo evitar contato visual com todo mundo.
Chen Zhen se permitiu afundar mais na água, a ponto de seus ombros também ficarem submersos, e olhou para cima, enquanto permitia que a grande piscina natural o massageasse.
- Kenzo Shin…
Murmurou o nome de seu mais novo inimigo, sentindo-se ansioso e preocupado com o futuro à frente. Kenzo Shin “era” Magna. O que fazer quando uma arma do tamanho de um continente está apontada para você, e quem está com o dedo nesse gatilho, para puxá-lo a hora que quiser, é um louco com muito poder, desejoso de ainda mais poder? Como se vence uma batalha desigual como essa?
Então ele se lembrou de algo.
- Um continente?
O mestre dissera algo antes, durante a escaramuça no estabelecimento Tsuki No Ai, quando a senhora Izuko tinha sido incapacitada por Miyamura Kaito e seus comparsas.
“Amuletos de selamento anti-magia. Feitiçaria de Hanatsuki. Maldição, Ayuka-chan. Ficar do lado de alguém como ele?”
- Dois continentes - deduziu, suspirando.
A arma apontada para eles tinha o tamanho de dois continentes, não um. Kenzo Shin tinha como aliada Azukame Ayuka, a atual regente do chamado “reino da criação”, a quem a senhora Izuko e a senhora Kaede serviram. A hostilidade e o rancor que a tutora das filhas de Kenzo Shin guardava em relação à sua antiga suserana poderiam muito bem ser uma via de mão dupla. Para Ayuka, a possibilidade de desmantelar uma resistência coordenada por sua antiga subordinada, afastada por desacato e insubordinação, seria uma guloseima sedutora demais para ignorar. Magna e Hanatsuki trabalhariam juntos para o extermínio do que estava sendo divulgado na mídia como “uma insurgência rebelde dos não-aceitantes da morte do rei Hisui e do reinado de seu filho Shin”. Mas nem tudo estava perdido. Ainda era cedo para desesperar-se. Se o mestre Kioshin e a senhora Izuko conseguissem a simpatia da governante de Abdalah, Sakurai Rika, os deuses os concederiam uma chance de talvez equilibrar, um pouco que fosse, essa desbalanceada e injusta queda-de-braço.
Remoer essas preocupações indefinidamente não traria benefício algum. Chen Zhen permitiu-se desligar desses pensamentos momentaneamente, e aproveitar o momento de descanso. E então, a privação de sono, acompanhada da sensação agradável provocada pela água quente, o atingiu como um soco. Fechou os olhos e deixou que a grande piscina natural fizesse o papel de sua cama.
Uma vez que Kiaulen possui um clima ameno na maior parte do ano, isso não é um problema. Mas Chen Zhen ainda não havia sido apresentado ao calor do dia que faz em Abdalah quando o sol reina sobre a terra. Quando Kioshin, Kio Xai, os demais Genji e ele haviam pisado neste solo para se dirigir ao estabelecimento Tsuki no Ai, a bola de fogo celeste já estava se pondo, mergulhando no horizonte e pintando o mundo em tons alaranjados, e a temperatura era agradável. O evento de confraternização promovido pela senhora Izuko, as apresentações, a confusão no salão e a batalha contra os soldados de Magna, Miyamura Kaito e seus guarda-costas robóticos aconteceram sob o manto da noite, quando a Lua fazia sua vigília sobre o mundo, findando nas últimas horas que antecedem a alvorada. Agora, apesar de ainda ser pouco antes das nove horas da manhã, o relógio flamejante dos deuses já brilhava e ardia acima de suas cabeças, como um ditador soberbo, escaldando a terra e envolvendo o mundo logo abaixo em um lençol de calor calcinante e ar abafado, que parecia grudar-se à pele de seus corpos e comprimi-los.
Sahptev é o nome da religião praticada em Kiaulen. Os Genji cultuam um total de mil e um deuses, e as sagradas escrituras dizem que os mesmos estão presentes em todas as coisas, materiais e espirituais. Aparentemente, Ytar - o deus do Sol e do fogo - tinha uma particular preferência por observar esta parte do mundo mais de perto, pois seu toque calcinante se fazia sentir com intensidade. Em contraponto, Inna, a bela deusa do céu, não parecia estar voltando sua atenção para aquela porção de terra naquele dia, uma vez que o céu estava limpo e sem nuvens, as quais crê-se que são o local de repouso da divindade. Durante o trajeto, das ruínas do que fora o estabelecimento da senhora Izuko, para a sua propriedade no litoral, Chen Zhen não escapou da experiência de sentir o suor escorrendo pelo interior das roupas e irritando os próprios olhos quando a gravidade o fazia pesar e deslizar da testa. Certa vez, ouvira o mestre Kioshin dizer que o verão prolonga-se durante quase todo o ano nestas terras. Teorizou que o costume das mulheres deste continente de desfilarem em trajes sumários tinha menos a ver com pura e simples libertinagem, e mais a ver com adaptação ao calor opressivo e uma constante luta contra o sufocamento e a desidratação.
Apesar do calor característico do continente de Abdalah, o interior da luxuosa e imponente propriedade praiana da senhora Izuko era refrescante e acolhedor. Contra o calor externo, Chen Zhen estava abrigado. Contra outra coisa, que vinha de dentro, não. O pesar de pensar em seus irmãos Genji e nas demais pessoas feridas ou mortas na batalha contra os soldados de Magna liderados por Miyamura Kaito. Os esforços da senhora Izuko, do mestre Kioshin e das demais pessoas que ajudaram no combate evitaram que uma tragédia maior acontecesse, mas não foi possível evitar fatalidades. Chen Zhen vira algumas dessas fatalidades acontecerem diante dele, e as recordações eram intensas e vívidas em sua mente, como se estivessem sendo reproduzidas com fidedignidade na frente dele naquele momento. O monge segurava firme seu rosário enquanto rezava silenciosamente para que os deuses acolhessem as almas das pessoas injustamente vitimadas no triste episódio da noite anterior. Ele não conhecia o homem chamado Kenzo Shin, mencionado por Miyamura, e cuja mera menção aparentemente causava desconforto tanto na senhora Izuko quanto no sifu, mas as consequências de sua recente ascensão ao poder se faziam sentir desde já, sob a forma de morte e sofrimento de inocentes. Era doloroso se questionar quantos mais precisarão morrer como se fossem gado, em prol dos ardis malignos de um governante com o qual um homem como Miyamura Kaito se alinhava.
“Afinal, o nosso rei irá governar todos os mundos inclusive os 4 reinos.”
A proclamação proferida por Miyamura com prazer sádico no salão do estabelecimento Tsuki no Ai, momentos antes da grande depredação, também ribombava em seus pensamentos. A que tempos sombrios o povo de Magna estaria sendo submetido à força pela mão maligna de um homem como Kenzo Shin? E o que seria das pessoas dos demais reinos, se alguma veracidade pudesse ser creditada à ameaça feita pelo major?
O grande televisor localizado no centro da sala de estar, onde estavam todos reunidos, pareceu ter escutado as preocupações de Chen Zhen, pois respondeu parte de suas dúvidas, divulgando sua versão manipulada e tendenciosa dos fatos ocorridos no centro de controle de inteligência artificial de Magna, que culminaram com a morte do rei Kenzo Hisui, da senhora Kaede e de todos os demais membros da família real, a exceção do agora rei Shin. Um breve observar dos semblantes do mestre Kioshin e da senhora Izuko foi mais do que suficiente para ele saber que as notícias eram convenientemente falsificadas para pintar Kenzo Hisui, que não podia refutar as acusações, como vilão, e seu filho Shin como herói.
Uma gata antropomórfica compartilhava em voz alta informações adicionais.
- Há notícias de que os guardas de Magna em especial Miyamura Kaito, esteve em combate com os “rebeldes” após rejeitarem a notícia, ele está em estado grave no hospital de Magna levado as pressas após quase morrer em intenso combate.
O orgulho da vitória sobre o inimigo passou longe das sensações de Chen Zhen ao ouvir isso. Ao invés disso, ele sentiu uma pontada de culpa. Os ferimentos que ele causou em Miyamura podem ter contribuído para inflamar ainda mais a hostilidade entre os reinos. Ele lançou um breve olhar para Bianca Mori, procurando no semblante dela algo que o reassegurasse de que fizera a coisa certa.
A senhora Izuko e alguns nanotecs médicos tratavam os ferimentos mais graves dos sobreviventes presentes no local. Chen Zhen se oferecera para ajudar também. Ele usava seu Chi Kung de cura, Sopro Divino, para fechar as escoriações que uma funcionária humana, com longos cabelos negros e roupa recatada de servente, tinha nos braços e nos ombros, possivelmente por conta de uma tentativa de violência praticada por um soldado de Magna. Enquanto trabalhava, ouvia a discussão da senhora Izuko com suas subordinadas, sobre o ocorrido, as notícias e o futuro instável à frente.
- Isso pode piorar com a chegada de Shin no poder, não existirão mais regentes nos continentes, serão apenas “empregados” do futuro rei.
Ao ouvir essas palavras proferidas pela amiga do mestre, Chen Zhen instintivamente olhou para o mesmo, e depois para Kio Xai, que também seria diretamente impactada se essa mudança no organograma global de poder se tornasse realidade, e o pai dela fosse obrigado a dançar conforme a música tocada pelo desequilibrado novo rei de Magna.
Chen Zhen terminou o curativo, e a moça agradeceu e se retirou. Ele permitiu-se acomodar no grande sofá, tendo aos seus flancos Kio Xai e Bianca, e soltar o peso dos ombros, quão logo a senhora Izuko começou a compartilhar com todos a sua história de vida.
Aparentemente, ela era natural de Hanatsuki, e já esteve intimamente ligada à atual regente Azukame Ayuka, bem como sua prima, a finada senhora Kaede, que fora prometida e oferecida a Kenzo Shin em um casamento por interesse. O tom de voz abrasivo e os termos pejorativos usados por ela para se referir à rainha de Hanatsuki denunciavam que, contrastando com a ótima relação que Chen Zhen tinha com o sifu, ela tinha mágoas e rancores guardados em relação à sua outrora superiora imediata.
- (Nem todos somos favorecidos pelos deuses com bons mestres) - Chen Zhen refletiu em pensamento.
A senhora Izuko prosseguiu.
- Se acham que eles vão me parar, isso nunca… Eu não sei onde isso vai parar… - Ela dá uma tragada, mas, logo solta a fumaça, continuando. - Mas, eu vou lutar contra esse desgraçado, assassino. - Ela lambe o corte em seu lábio inferior, agora encarando Kioshin Yi. - Foi aquele desgraçado e você sabe…
Chen Zhen percebeu que Kio Xai fez menção de se levantar do sofá e fazer um protesto, mas o mestre a deteve com um gesto, sem tirar os olhos da anfitriã. Seria hipocrisia da parte dele não reconhecer que compartilhava dos sentimentos da filha do mestre. Achava inadequado o governante de Kiaulen se permitir tratar e ter a palavra dirigida a ele daquela forma, como se fosse um homem qualquer. Jamais criticaria o mestre, mas às vezes acreditava que ele tratava sua própria posição de representante de um dos quatro reinos de forma muito leviana, e se esforçava demais para ser um homem do povo, ao alcance de todos, oferecendo liberdades das quais as pessoas poderiam abusar.
- Precisamos informar Rika, ela já deve saber o que houve. Temos que pensar no que fazer com calma a partir de agora… - disse Kioshin, mantendo o foco no problema principal em questão.
O mestre se levantou e ofereceu seu apoio à velha amiga. Chen Zhen percebeu que, por trás do discurso resiliente e decidido, e das feições duras e obstinadas, a senhora Izuko demonstrava menções de desabar em prantos a qualquer momento, no que o apoio do mestre, como seu amigo, se faria necessário. Resolveu relevar o momento de ousadia de antes e pediu aos deuses para que essa leniência da parte do mestre fosse um tratamento excepcional dedicado à senhora Izuko, em honra à amizade de longa data de ambos, e não se tornasse regra.
A anfitriã e o mestre se retiraram da grande sala, subindo as escadas em direção ao quarto da mesma. Foram acompanhados por uma nanotec chamada Yumi, que, contrastando com as feições e trejeitos praticamente humanos de Ryuko, o nanotec companheiro do espadachim Satoru, transbordava artificialidade e frieza.
Os que ficaram na sala começaram a conversar entre si. Um suspiro pesado e indignado de Kio Xai chamou a atenção de Chen Zhen.
- [E, como se não bastasse, fica arrastando o meu pai pra cima e pra baixo, como se ele fosse seu consorte] - a filha do mestre resmungava no idioma nativo de Kiaulen, reclamando da conduta da senhora Izuko para com o pai, na opinião dela, inadequadamente informal e íntima.
- [Calma, irmã] - Chen Zhen tentou tranquilizá-la - [o mestre parece não se importar. Eles são amigos de longa data. A senhora Izuko nos ofereceu sua hospitalidade e passou por muita coisa, incluindo a recente perda de sua prima e a destruição de todo o seu trabalho. E, no momento, há uma crise maior que eu, você, ou qualquer um de nós, acontecen-]
Chen Zhen interrompeu-se ao escutar uma conversa paralela.
- Com certeza, parece que eles divulgaram alguns nomes dos que estiveram em combate, e isso inclui o Sr. Kioshin, esse monge ai sem cabelo.
Percebeu que a gata antropomórfica que falava aquilo olhava para ele, aparentemente analisando-o e achando graça em alguma coisa. A resposta emocional a aquele comentário ficou restrita aos seus pensamentos.
- (Este monge pode não ter cabelo, mas tem nome) - pensou - (e minha escassez de cabelo é um problema mais fácil de ser resolvido do que o seu excesso do mesmo, senhorita bola de pêlos.)
Imediatamente levou a mão ao rosário para pagar a penitência perante os deuses, por esse pensamento desarmonioso. Aparentemente, o costume masculino dos Baixos Genji de raspar a cabeça era fonte de curiosidade e divertimento para os outros povos. Não se deixaria tropeçar nessa pedra colocada em seu caminho. Ao invés disso, escalaria esse degrau em prol da sua ascensão. Após recuperar o equilíbrio emocional, refletiu sobre a informação compartilhada, e percebeu que tinha mais motivos para se preocupar, se os nomes e rostos dele e do mestre tiverem sido marcados como inimigos de Magna. Escutou Bianca dirigir a palavra a ele.
- Chen Zhen-sam... Eu... Obrigada por tudo... Se não fosse por você eu teria... Eu…
Ao tentar falar sobre a experiência traumática, ela não conseguia concluir cada nova frase que começava.
- Assim que eu me recuperar, vou te forjar um par de soqueiras extremamente poderosas em agradecimento.
Ao voltar a se situar em sua área de atuação, a ferraria, mencionando as soqueiras, sua dicção voltou a fluir naturalmente. Chen Zhen percebeu que ela ainda estava com o espírito e o emocional abalados pelo conflito de antes. Algumas lesões eram profundas e complexas demais para sua técnica Sopro Divino curar. Deveriam ser fechadas com meditação e tempo. Chen Zhen pensou em dizer a ela que não precisava se incomodar, pois não lhe devia nada. Mas, em um breve momento de potencial egoísmo, a ideia de ganhar soqueiras de metal poderosas o deixou interessado; eram ferramentas de combate eficientes e versáteis, que poderiam ser usadas tanto para ataque quanto para defesa. Jamais recebera tal regalia de um Alto Genji, geralmente os desenvolvedores de equipamentos de combate e defesa dotados de tecnologia mais avançada em Kiaulen.
- Pelo que entendi - a subordinada peluda da senhora Izuko prosseguiu - vão instaurar um inquérito sobre hoje, ainda essa semana, depois da posse do novo rei.
- Eu já não gostava de Magna, agora piorou. O que podem fazer? - a elfa que parecia ter desenvolvido intimidade com Bianca lançou um questionamento difícil de responder.
- Em Kiaulen - Chen Zhen explicou - todo acusado de algum crime, por pior que seja, tem a oportunidade de ser ouvido em audiência, antes de ser julgado e condenado.
Kio Xai cruzou os braços.
- Mas nós não estamos em Kiaulen - contestou - nem Kenzo Shin. E eu não apostaria as minhas fichas na generosidade e observância do princípio da presunção de inocência por parte de alguém como ele.
Chen Zhen não podia refutar a observação de Kio Xai. Kenzo Shin já tinha a mídia nas mãos. O que o impedia de ter também os poderes de juiz, júri e executor?
A atenção de todos os cinco (Chen Zhen, Kio Xai, Bianca, a elfa e a gata) foi desviada do assunto, quando uma criança, uma menina de longos cabelos prateados e olhos vermelhos, aparentando ter cerca de dez anos, e uma quantidade de energia equiparável à de um reator nuclear, surgiu sabe-se lá de onde e pulou nas costas da elfa.
- Quem sabe você deixa de encher a cabeça dos outros com suas perguntas chatas, e os convida para ir para o onsen! - a jovem menina disse, empoleirando-se na elfa como se esta fosse um brinquedo de recreação infantil - Ah! Me chamo Sayuki! Prazer! Essa tonga aqui é a Mel Mel
- Chen Zhen, discípulo do mestre Kioshin - o monge se apresentou - esta é Kio Xai, filha do mestre.
A filha do mestre fez um meneio de cabeça curto e seco.
Após alguns protestos e discussões entre as duas, a elfa acabou aceitando a sugestão da menina de cabelos prateados, e se dirigiu a uma outra menina, da mesma idade, com a mesma longuidão dos cabelos, porém negros, e os mesmos olhos carmesins, cuja presença Chen Zhen ainda não havia notado, que conversava com o espadachim Satoru, para se juntarem a eles. O monge começou a sentir a cabeça girar com a enxurrada de novos nomes e novos rostos a memorizar. Se dirigiu a Kio Xai.
- Quem são essas crianças? - perguntou.
Kio Xai simplesmente ergueu e baixou os ombros.
- Protegidas de Izuko - quem respondeu foi Bianca - elas são Kenzo Sayuki e Kenzo Sayako, filhas gêmeas do rei Shin com Kaede, rejeitadas pelo pai e mandadas aos cuidados de Izusu pela mãe, para que não fossem mortas.
Chen Zhen ficou atônito com a súbita revelação, de que eles estavam no mesmo recinto que as filhas do inimigo poderoso que provavelmente desejava matá-los, e de que Kenzo Shin seria tão cruel a ponto de mandar matar seu próprio sangue. Deteve-se por alguns segundos, observando com um certo interesse a menina tímida e silenciosa chamada Sayako. Se perguntou se Sayuki-chan e Sayako-chan estavam cientes de que sua mãe biológica estava morta, ou se a mulher que Bianca chamava de Izusu havia sido tão bem sucedida em desempenhar um papel de figura materna, que elas aprenderam a não sentir falta da senhora Kaede. Suas divagações foram interrompidas quando ele sentiu sua mão sendo puxada vigorosamente pela elfa, que o conduzia, juntamente com Bianca, para o ambiente de banhos.
- Ei! - Kio Xai protestou, seguindo-os - não arraste meu irmãozinho assim, sem mais nem menos!
Um banho misto, compartilhado entre homens e mulheres ao mesmo tempo. Em Kiaulen, isso seria impensável. Mas Chen Zhen se lembrou das palavras ditas pelo mestre a Kio Xai, quando eles estavam a caminho do estabelecimento Tsuki no Ai. “Outros continentes, outras culturas e costumes”. Após muita hesitação e ponderação, resolveu aceitar o convite e permitir-se um momento de relaxamento e recuperação das energias após a recente batalha. Observara Kio Xai testar a paciência das empregadas da casa até o limite, exigindo uma roupa de banho de uma única peça, chamada maiô, grande o bastante para cobrir também os ombros e o início das coxas, o mais recatado possível que a casa tivesse, para vestir por baixo da toalha. De onde ele estava, não podia ver direito, pois estava acomodado em um canto da grande piscina de pedra, e as mulheres, incluindo Kio Xai, estavam em sua maioria na extremidade oposta e distante, e a névoa de vapor emanado da água quente preenchia o ar ao redor deles e tornava difícil enxergar o que se passava ao longe. Mas teve a impressão de haver escutado Kio Xai solicitar não uma, mas duas toalhas, para envolver o corpo já coberto pelo restritivo traje de banho.
- (Espero que ela não desmaie de calor) - pensou, ao sentir a temperatura da água.
Ele próprio havia optado por permanecer com a peça íntima que usava por baixo da túnica de monge, além da toalha que lhe envolvia os quadris. Por um lado, achava que Kio Xai estava exagerando um pouco. “É desse jeito, ou me tornarei imprópria para me casar algum dia”, ouviu-a dizer. Por outro lado, achou gracioso o zelo dela em preservar suas intimidades. O mestre tinha motivos para ficar orgulhoso, bem como o futuro homem de sorte que fizesse os votos perante os deuses. “Se você chegar a menos de dois metros de uma garota, eu irei saber.”, ela praticamente o ameaçara. Perguntou-se se ela tinha falado isso da boca pra fora, ou se realmente falava sério. Nessa segunda hipótese, ela saberia que ele estivera a menos de dois metros de Bianca Mori horas antes, quando a protegera de Miyamura Kaito e curara seus ferimentos? Mas achou pouco provável a ameaça dela se concretizar, pois, como se não bastassem o maiô recatado e as duas camadas de toalhas, Kio Xai estava de frente para o canto da piscina onde estava, de costas para tudo que acontecia no centro e as pessoas que estavam ali, parecendo evitar contato visual com todo mundo.
Chen Zhen se permitiu afundar mais na água, a ponto de seus ombros também ficarem submersos, e olhou para cima, enquanto permitia que a grande piscina natural o massageasse.
- Kenzo Shin…
Murmurou o nome de seu mais novo inimigo, sentindo-se ansioso e preocupado com o futuro à frente. Kenzo Shin “era” Magna. O que fazer quando uma arma do tamanho de um continente está apontada para você, e quem está com o dedo nesse gatilho, para puxá-lo a hora que quiser, é um louco com muito poder, desejoso de ainda mais poder? Como se vence uma batalha desigual como essa?
Então ele se lembrou de algo.
- Um continente?
O mestre dissera algo antes, durante a escaramuça no estabelecimento Tsuki No Ai, quando a senhora Izuko tinha sido incapacitada por Miyamura Kaito e seus comparsas.
“Amuletos de selamento anti-magia. Feitiçaria de Hanatsuki. Maldição, Ayuka-chan. Ficar do lado de alguém como ele?”
- Dois continentes - deduziu, suspirando.
A arma apontada para eles tinha o tamanho de dois continentes, não um. Kenzo Shin tinha como aliada Azukame Ayuka, a atual regente do chamado “reino da criação”, a quem a senhora Izuko e a senhora Kaede serviram. A hostilidade e o rancor que a tutora das filhas de Kenzo Shin guardava em relação à sua antiga suserana poderiam muito bem ser uma via de mão dupla. Para Ayuka, a possibilidade de desmantelar uma resistência coordenada por sua antiga subordinada, afastada por desacato e insubordinação, seria uma guloseima sedutora demais para ignorar. Magna e Hanatsuki trabalhariam juntos para o extermínio do que estava sendo divulgado na mídia como “uma insurgência rebelde dos não-aceitantes da morte do rei Hisui e do reinado de seu filho Shin”. Mas nem tudo estava perdido. Ainda era cedo para desesperar-se. Se o mestre Kioshin e a senhora Izuko conseguissem a simpatia da governante de Abdalah, Sakurai Rika, os deuses os concederiam uma chance de talvez equilibrar, um pouco que fosse, essa desbalanceada e injusta queda-de-braço.
Remoer essas preocupações indefinidamente não traria benefício algum. Chen Zhen permitiu-se desligar desses pensamentos momentaneamente, e aproveitar o momento de descanso. E então, a privação de sono, acompanhada da sensação agradável provocada pela água quente, o atingiu como um soco. Fechou os olhos e deixou que a grande piscina natural fizesse o papel de sua cama.
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